SINOPSE
Fugindo de seus credores, dois homens
compram um pássaro que os levará ao reino das aves. A ordem que
lá existia é tumultuada com a chegada dos dois, que sugerem mudanças
radicais na estrutura daquele espaço. Em um mundo onde todos querem ter
vantagens, a lábia é a melhor arma. Nem mesmo os deuses do Olimpo estarão a
salvo das trapalhadas causadas pela ambição de homens e aves.
SOBRE O PROCESSO “PASSARÓPOLIS”
A idéia de encenar uma comédia, após
tantos espetáculos densos como “Os Camaradas”, “A Parte Doente”, “Renato, o
Menino que Era Rato” e “Volúpia”, mescla desejo e desafio a perseguir os
integrantes da companhia.
No último semestre de 2009, o tema de
estudo na Carona Escola de Teatro foi o teatro grego. Além de inspirar os alunos,
os próprios professores da Escola sentiram-se contagiados com as comédias do
mestre Aristófanes (447 a.C.). Acabaram convencidos de que encenar uma de suas
obras na rua poderia resultar numa pesquisa interessante. A idéia virou
projeto. “Palavras Aladas – Um Vôo em As Aves, de Aristófanes” foi inscrito e
premiado no Edital FUNARTE Artes Cênicas na Rua 2009.Além de custear boa parte da
montagem, o projeto incluiu uma ida à capital argentina, em El Astrolabio
Teatro, sede da Periplo, Compañia Teatral, onde durante 10 dias os dois grupos
trabalharam num processo que serviu de pontapé inicial para a criação do
espetáculo.
“Julgo ser de extrema importância
iniciar um processo onde não se venha com as respostas prontas e seguir por um
caminho onde não se sabe o que vai encontrar. Para iniciar um novo aprendizado,
com qualidade, é preciso que o ator tenha a coragem de se entregar ao “vazio”,
e isso ocorre com os atores da Cia Carona. Além disso, o atual estado de
maturidade da Cia Carona colabora muito, pois seus integrantes estão
predispostos a transpirar criação e a ouvir o outro, quer seja o colega de
trabalho, a direção, a dramaturgia e todos os outros elementos que constituem
uma grupalidade”, diz Diego Cazabat, diretor da Periplo Compañia Teatral.
Voltar a trabalhar com o grupo
argentino foi um grande impulso para retomar a pesquisa sobre o ofício do ator
e sobre elementos específicos da atuação voltada à comédia.
Além deste encontro, o projeto também
trouxe a Blumenau dois dos atores-pesquisadores do LUME Teatro, da Unicamp-SP.
Jesser de Souza trabalhou em dois momentos com a Cia Carona sobre o tema “O
Ator Cômico na Rua”. Trabalhos sobre a percepção corpórea de si e do outro
agora incluíram novos elementos, como o passante, o movimento contínuo da rua, a
concentração nesse ambiente de dispersão, entre outros.
"Participar do Projeto
Passarópolis só fez crescer a admiração e o respeito que já nutria
pela Cia. Carona, por seu trabalho rigoroso, meticuloso e refinado; por sua
coragem em levar aos palcos encenações com propostas ousadas e necessárias;
pela reflexão crítica e sensível traduzidas artisticamente de forma poética e
contundente em seus espetáculos e, acima de tudo pelos parceiros muito queridos
de longa data, cujo trabalho acompanho com carinho e apreço”, diz Jesser de
Souza, ator-pesquisador do LUME Teatro, da Unicamp-SP. Já Carlos Simioni, também
ator-pesquisador do LUME Teatro, da Unicamp-SP, trouxe seu conhecimento sobre
técnica vocal num trabalho específico chamado “A Voz do Ator na Rua”. “Tive uma grata surpresa neste
trabalho com a Cia Carona. Encontrei atores bem preparados, sérios, e com muito
respeito pelo trabalho e com seu fazer teatral”, diz o ator, fundador do Lume. Para Pépe Sedrez, diretor da Cia
Carona de Teatro, a oportunidade de voltar a encontrar-se com Lume e Periplo,
as maiores referências na trajetória da Cia, por si só já são motivos de grande
satisfação. “Não é fácil realizar encontros com profissionais tão reconhecidos
no cenário teatral e com tamanha identificação com o trabalho da Carona.” Os
encontros, para o diretor, não poderiam ter sido melhores. Passarópolis
agradece.
SOBRE A DRAMATURGIA
Na opinião de Gregory Haertel,
“trabalhar com a Cia Carona tem sido tentar criar, a partir de um coletivo, de
uma família com idéias e vontades diferentes, uma única voz.” Em
‘Passarópolis’, ao se iniciar este processo, o que se ouvia com maior
intensidade era o desejo pela comédia com uma incisiva crítica política.
“Somente a presença física nos
ensaios e a proximidade com os integrantes da Cia Carona é que permite que este
trabalho se dê assim, um interferindo no outro, porém sem que cada um tenha o
seu espaço invadido”, acrescenta o dramaturgo.
A adaptação propõe a
identificação do espectador com as aves através da incitação política
questionando o quanto nós, espectadores, assim como as aves da peça, nos
deixamos levar por promessas de uma felicidade que talvez nem nos faça falta e,
pior, o quanto nos calamos diante de todos os ‘horrores’ e ‘maldades’ feitos em
nome desta ‘felicidade’.
Tanto no reino dos homens (o início
da peça, que não existe no texto original), quanto no reino das aves, o que
vemos são figuras que tentam ‘passar a perna’ umas nas outras em busca de
vantagens, na maior parte das vezes, financeiras.
Passarópolis, mais do que uma peça
sobre um homem que ilude as aves e se torna rei entre elas, é sobre estas
aves que, por se calarem, permitem que um homem reine sobre elas em seu próprio
benefício.